A prática obrigatória da avaliação psicológica em motoristas e candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é uma das principais responsabilidades do psicólogo no contexto do trânsito. O trânsito, atualmente, representa um problema social de proporções alarmantes, sendo uma das principais causas de morte no Brasil devido a acidentes automobilísticos.
Pesquisas demonstraram que cerca de 30% dos casos de morte registrados entre os anos de 2007 e 2016 foram provocados pelo desrespeito às normas de trânsito, resultando em mais de 23 mil mortes. No que diz respeito à falta de atenção como causa, foram registrados mais de 15 mil mortes e 276 mil feridos no mesmo período.
Entende-se que a habilidade de conduzir um veículo requer um nível mínimo de habilidades cognitivas, que são de grande relevância para o comportamento do motorista. Diante disso, o objetivo deste trabalho é identificar, na literatura, os construtos psicológicos mínimos considerados relevantes na avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação.
As avaliações psicológicas dos candidatos são realizadas em clínicas credenciadas pelos departamentos de trânsito de cada região. Segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (2015), o processo de avaliação ocorre em pelo menos duas etapas. A primeira consiste em uma entrevista individual, com duração média de trinta minutos. Já a segunda etapa envolve a aplicação de testes psicológicos, que são realizados de forma coletiva e têm uma duração média de duas horas. Para a aplicação dos testes e a análise dos resultados, é indicado que o avaliador siga as normas e orientações específicas dos instrumentos, conforme descrito nos respectivos manuais.
Após a conclusão dessas etapas, o psicólogo elabora um laudo, seguindo as diretrizes do Manual de Elaboração de Documentos Escritos instituído pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), no qual são apresentados os resultados dos exames do candidato. É importante ressaltar que os dados provenientes dos testes psicológicos devem ser complementados por informações obtidas por meio de outros recursos avaliativos, a fim de obter uma compreensão completa e contextualizada do resultado (Conselho Federal de Psicologia, 2011).
Os candidatos têm direito a uma entrevista devolutiva gratuita, na qual o psicólogo avaliador explica o resultado dos exames e fornece orientações sobre áreas que precisam ser aprimoradas durante uma eventual reavaliação. Na prática, observa-se que essa entrevista geralmente é realizada apenas pelos candidatos considerados inaptos temporariamente, enquanto os candidatos aptos não costumam retornar para receber um feedback sobre o resultado.
Os resultados da pesquisa permitiram constatar que os construtos psicológicos avaliados em qualquer condutor durante a perícia psicológica devem abranger: atenção concentrada, atenção dividida, atenção alternada, memória visual, inteligência, juízo crítico/comportamento e traços de personalidade.
Conclui-se, portanto, que, mesmo com as condições psicológicas mínimas estabelecidas por resolução, ainda há uma insuficiência na sistematização dessas características psicológicas dos candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, o que poderia servir como parâmetro para o trabalho dos psicólogos.
Referência:
Ferreira, B. N. P., Oliveira, A. J., Ferro, L. R. M., & Rezende, M. M. (2021). Avaliação psicológica no trânsito: os construtos psicológicos avaliados em candidatos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) [Psychological assessment in traffic: psychological constructs evaluated in candidates for the National Driving License (CNH)]. RIBPSI - Revista Iberoamericana de Psicologia, 01(01), 1-11.
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